Estadão – Psoríase: entenda a doença que atinge Xand Avião e outras 125 milhões de pessoas no mundo
O cantor Xand Avião revelou nesta semana que, desde 2019, convive com o diagnóstico de psoríase, uma doença crônica e autoimune que provoca manchas avermelhadas e placas descamativas na pele. Na declaração, feita nas redes sociais, o artista disse que tinha vergonha dos sintomas da patologia, e que chegou a se apresentar de boné para esconder as marcas da doença. Ainda segundo ele, as lesões, que começaram com uma pequena mancha em um dedo, se espalharam rapidamente pelo corpo, principalmente durante a pandemia da covid-19.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a psoríase atinge de 1% a 3% da população mundial, o que corresponde a cerca de 125 milhões de pessoas. Deste total, 5 milhões vivem no Brasil. Além de Xand Avião, outros famosos, como Kelly Key e Kim Kardashian, também já afirmaram ter o disgnostico para a patologia.
A psoríase não é uma doença grave e há tratamento acessível – inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – que permite o controle dos sintomas. Mas, além de não ter cura, a patologia também pode acarretar em problemas emocionais de autoestima e isolamento social por ser uma enfermidade dermatológica facilmente observável.
O que é o que causa a psoríase?
Doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP), e sócio Efetivo da SBD, o médico Abdo Salomão explica que a causa da psoríase é desconhecida, mas está relacionada com a genética e histórico familiar. Em termos fisiológicos, ele explica que o desenvolvimento da doença no corpo está associado a um processo inflamatório em uma das camadas da pele, cujas células perdem a adesão e começam a se soltar e descamar.
“Com isso, o organismo faz mais células e realiza esse processo de tal forma que a pele fica mais grossa e descamativa”, explica Salomão. Por essa razão, a psoríase é considerada uma doença autoimune, ou seja, que é provocada pelo próprio sistema de defesa do corpo.
Às vezes, as placas descamativas de pele lesionada aparecem nas palmas de pés e mãos, no couro cabeludo, e até em axilas, virilha e genitais (estes casos, chamados de Psoríase Invertida, são mais raros). Existem ainda os casos em que psoríase atinge as unhas – que são ainda mais incomuns.
“Geralmente, (a doença) poupa a face, porque o sol tem efeito anti-inflamatório. Onde bate sol, não tem psoríase ou raramente dá psoríase”, explica o especialista. Ainda segundo o Abdo Salomão, é mais comum a doença surgir na adolescência ou logo após a adolescência, e ser mais branda a medida que a pessoa envelhece. “Não significa que cura, mas as lesões e as placas descamativas diminuem (com o tempo)”, diz.
Há também fatores de risco que podem levar à manifestação da psoríase ou à evolução dos sintomas, como histórico familiar; estresse (que pode acelerar o surgimento dos sintomas); obesidade; tempo frio, que contribui para o ressecamento da pele; uso de álcool, tabaco e também de alguns medicamentos – antimaláricos, os que são usados para tratar hipertensão, e também lítio.
“Alcoolismo e etilismo fazem piorar a psoríase. E o estado emocional, estresse, preocupação, ansiedade e insônia servem como gatilhos para piorar a doença também”, afirma o médico.
Os sintomas da doença são considerados cíclicos, ou seja, aparecem com mais intensidade em determinada época, e podem ser menos desconfortáveis em outras. Isso pode depender também o estado emocional do paciente. Como disse Salomão, quanto mais ansioso e estressada está a pessoa, maiores são as chances das lesões aparecerem.
Em casos menos comuns, também podem ser observados inchaço e rigidez nas articulações, provocando a chamada artrite psoriásica, que acontece quando a psoríase atinge a região das juntas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, até 30% dos paciente apresentam esse quadro.
“Às vezes o paciente apresenta sintomas em um local (do corpo), e às vezes, apresenta em todos. Além disso, também é comum as placas migrarem, porque a alteração atinge a pele toda”, diz o dermatologista.
Sintomas da psoríase
• Manchas avermelhadas com escamas secas em regiões como couro cabeludo e cotovelo
• Pele ressecada e rachada espalhadas pelo corpo
• Coceira, queimação e dor
• Alterações no formato das unhas, além de descolamento
• Inchaço e deformação das articulações
Nos casos considerados leves, o tratamento é feito com a hidratação da pele com o uso de medicamentos tópicos (cremes), aplicados na região das lesões. Em algumas situações, a exposição ao sol (com a orientação de um dermatologista) também contribui para a melhora do quadro clínico.
O tratamento tópico, com creme, geralmente, é o suficiente. Mas, se o paciente apresentar resistência a esse método, passa a ser necessário um tratamento com o uso de comprimidos em casos mais moderados, ou injeção de medicamentos imunobiológicos em situações mais extremas, com numerosas placas pelo corpo e também nas articulações,.
Nesse último caso, os remédios são altamente caros, podendo chegar a R$ 20 mil reais. Mas, segundo Salomão, podem ser adquiridos pelo SUS.
Há também tratamentos em que o paciente é submetido à exposição de luzesultravioleta A (PUVA) ou ultravioleta B de banda estreita (NB-UVB) em cabines. Neste método, chamado de fototerapia, os médicos aumentam a sensibilidade da pele à luz por meio de uma combinação de medicamentos.
Tratamento também deve ser feito para saúde mental, diz médica
Por ser fisicamente aparente e observável, a psoríase também é conhecida pelos problemas emocionais e sociais que provoca nos pacientes. Pessoas diagnosticadas com a doença sofrem com as transformações no corpo e com dificuldades para autoaceitação. Além disso, lidam também com o preconceito de quem acredita que a enfermidade seja infecciosa. Esconder as feridas com roupas e se isolar passam a ser hábitos praticados.
Por esse motivo, a dermatologista Paola Pomerantzeff, também integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), alerta que é necessário incluir, no tratamento, cuidados com a saúde mental do paciente. “Apesar de ser uma doença benigna e não contagiosa, a psoríase pode gerar um impacto significante na qualidade de vida e na autoestima do paciente, atrapalhando-o tanto fisicamente, quanto psicologicamente e socialmente”, afirma a médica.
Um estudo publicado em 2020 na revista médica JAMA Dermatology, aponta que os problemas cutâneos provocados pela psoríase podem aumentar em 32% o risco de uma pessoa desenvolver doenças mentais, como depressão e ansiedade. E a piora desse estado emocional, lembra Paola, é perigoso justamente por ser um fator que agrava os sintomas da psoríase.
“Uma área relativamente nova de pesquisa em dermatologia levanta a hipótese de que se você teve psoríase realmente ruim em uma idade jovem e foi socialmente isolado, isso pode afetar sua vida social mais tarde, mesmo que sua pele melhore”, comenta a especialista.
Para ela, o ideal é que a ajuda psicológica seja um escudo, para que o indivíduo sinta menos os efeitos emocionais da doença. “É necessário ter empatia e dar espaço ao paciente, em um acompanhamento psicológico adequado, para falar sobre sua condição de pele e como isso afetou sua vida, o que pode ajudar a melhorar a resposta do tratamento”, diz a médica.